segunda-feira, 24 de maio de 2010

Aprendi com a primavera a deixar-me cortar e voltar sempre inteira



Ouvir a palavra câncer normalmente nos leva a ter sentimentos negativos e falta de esperança, pois, historicamente construiu-se a idéia de que uma pessoa que recebesse esse diagnóstico não teria chances de sobrevivência. Sabe-se que a falta de informação sobre esse assunto contribui para que a maioria das pessoas ainda tenha uma visão pessimista sobre a doença, porém, devemos lembrar que câncer não é sinônimo de morte.

Nos próximos posts irei abordar diversos assuntos pertinentes a esse tema, com o intuito de levar informação e esperança para aqueles que enfrentam essa situação, ou, que gostariam de saber como podem ajudar a salvar vidas em alguns casos da doença, especialmente da Leucemia.

É com imenso orgulho que irei expor a história da minha prima também considerada como irmã. Seu nome é Hemilin Cândido Alves, uma jovem de 23 anos estudante de Jornalismo que no dia 15 de agosto de 2006 com apenas 19 anos, recebeu um diagnóstico de Leucemia Linfóide Aguda, um dano genético adquirido (não herdado) no DNA de um grupo de células na medula óssea. As células doentes substituem a medula óssea normal. Os efeitos são o crescimento incontrolável e o acúmulo das células chamadas de “linfoblastos” que perdem a capacidade de funcionar como células sangüíneas normais havendo um bloqueio da produção normal de células na medula óssea, levando a uma diminuição na produção de glóbulos vermelhos, plaquetas e glóbulos brancos na medula óssea. O diagnóstico foi recebido por ela um dia após fazer o mielograma - exame onde é feito uma punção na medula.
Abaixo o relato da Hemilin sobre a doença, tratamento e seus sentimentos em relação a eles:

“Quando ouvi a médica dizer o que eu tinha e como seria o tratamento foi como perder o chão. Um sentimento que não dá muito para explicar. A médica queria que eu iniciasse o tratamento no dia seguinte, mas como fiquei um pouco abalada, ela me deu um dia pra pensar, pra me acostumar com a idéia. E foi isso que eu fiz. Fui pra casa, pensei sobre o assunto, mas não muito, e decidi me dedicar 100% ao tratamento, afinal não existiam muitas opções. E também eu percebi naquele momento que eu queria viver e fazer tudo o que eu ainda não tinha feito.
No dia 17, iniciei o tratamento com a quimioterapia. Comecei com sessões semanais, depois diárias. Fiz algumas quimioterapias que duravam 24h e que tinham que ser feitas internada no hospital. Fiz um ano e meio de quimioterapia endovenosa. Mas logo nas primeiras seções já entrei em remissão. Eu tinha 98% de células leucêmicas, mas já nos primeiros meses esse numero baixou para 0,01%, que é o que tenho até hoje. Quando eu estava no sexto mês de quimioterapia eu fiz a radioterapia, que é feita como prevenção. O meu tipo de leucemia pode passar para o sistema nervoso, por isso é feito a radioterapia, fiz 15 sessões de radioterapia. Depois de um ano e meio eu passei para a quimioterapia oral, foi quando o tratamento ficou mais tranqüilo, pude voltar para a faculdade e quase ter uma vida normal. Fiz um ano e oito meses de quimioterapia oral, até fevereiro desse ano. Até agora os médicos não disseram que estou curada. Tenho que esperar cinco anos, se não tiver nenhuma recaída aí sim é considerado curada.
A parte difícil do tratamento é que você fica muito debilitado, com dificuldade pra fazer coisas simples, como escovar os dentes. É ruim também ter que deixar a rotina a que você estava acostumado e passar a viver em função do tratamento, praticamente morando no hospital. A quimioterapia tem muitos efeitos colaterais, e a mudança de humor é um deles, o que dificulta o processo.
A familia é fundamental, seria praticamente impossível passar por tudo sem eles.
Durante o tratamento a família ficou mais unida, mas, muitos também se afastaram o que hoje vejo que é normal, acontece com quase todos. Muitas pessoas não estão preparadas para enfrentar a situação.
Eu decidi enfrentar o tratamento por muitos motivos. Por mim, pensei em tudo que eu queria fazer ainda, pela minha família, eu vi o quando todos me amavam e o quanto queriam que eu ficasse bem.
E pelas pessoas que lutam contra a leucemia. Vi inúmeros casos de pessoas em situações muito piores que a minha. Isso me dava força pra fazer tudo que tinha que fazer. Quando eu tinha dor, sempre pensava que tinha alguém em algum quarto do hospital com muito mais dor que eu. Quando eu sentia medo, pensava nas crianças que tem que fazer os mesmos procedimentos que eu. Tudo isso me deu força. Eu fiz o que eu tinha que fazer.”


Quem acompanhou o tratamento da Hemilin pôde perceber que o brilho dos seus olhos e os sorrisos estampados em seu rosto jamais deixaram de ser os mesmos. Falar sobre ela é sempre uma emoção, pois vejo nela um exemplo de superação e acima de tudo a certeza de que não importa quão difícil seja a situação que enfrentamos nunca devemos perder a esperança. Com ela aprendi que não existem barreiras para aqueles que acreditam na VIDA!

6 comentários:

  1. Sem dúvida, um belo exemplo de superação!
    Parabéns!

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  2. Ai me emocionei! Sempre me emociono quando falo nela e quando ouço as histórias dela...
    É realmente uma prova de a esperança nunca morre e de que a vida é feita não pelos fatos, mas pela forma como encaramos tais fatos.
    Estou ansiosa para ler os próximos posts sobre este assunto.

    Parabéns pela iniciativa e por valorizar as grandes pessoas/exemplos a sua volta!!

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  3. Emocionante! Uma lição de vida....
    Passei por algo parecido na minha família... Não tão grave... mas capaz de provocar um enorme abalo emocional... Graças a Deus tudo esta se resolvendo.
    O apoio de meus amigos foi fundamental, visto que eu precisava buscar forças pra levar pra dentro de casa...

    Parabéns pela iniciativa do blog!

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  4. Belo exemplo de vida..
    é bom demais saber que existe gente que ainda acredita na vida, e não deixa de lutar por ela!
    Parabéns pelo seu esforço e principalmente pela vontade de viver Mimi.
    Parabéns pelo post..

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  5. Ai kari! Nem sei o que dizer! Obrigada pelo carinho e por ter ficado do meu lado durante todo esse tempo! Espero que esse texto dê mais esperança para aqueles que estão ainda lutando!

    Te amo irmã!
    Parabéns pelo blog! É bom saber que existem pessoas como você!

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  6. Acabo de conhecer a Hemilin para uma matéria sobre transplantes e sua história mexeu até com o meu passado! ;)

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